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  • Uma pena mas tudo n o passou de uma estrat

    2019-05-10

    Uma pena, mas tudo não passou de uma estratégia de venda, uma reunião de escritores que ficou somente na mediação do editor. Estratégia, aliás cada vez mais usada desde BV6 tão comentada entrada da literatura brasileira no mercado internacional motivada principalemente pela retomada dos projetos de difusão e tradução da Fundação Biblioteca Nacional, entre elas a participação do Brasil nas feiras internacionais a partir de 2011. No entanto, Verônica passa a ler Bellatin, Bellatin lê de Verônica, e esse talvez seja o ganho mais interessante. Nesse caso, há uma leitura recíproca que podemos rastrear até certo ponto. E arrisco dizer que os autores brasileiros mais antenados leem avidamente na língua original os hispano-americanos que têm visibilidade para além de suas fronteiras, o que é um ganho. Mas pensar o Brasil a América Latina não é uma tarefa fácil. Quase todos os textos publicados por ocasião da participação do Brasil na última Feira de Guadalajara começam dizendo justamente que o Brasil não é visto ou não se vê como parte da América Latina. Por exemplo, na matéria de “Feira do Livro de Guadalajara, o cupido que quer flechar o Brasil”, veiculada no em 5 de dezembro de 2015, Laura Niembro, diretora de conteúdos da feira, define o país como “o irmão ausente na América Latina”. Para os escritores presentes na edição de 2012, na qual o Brasil era o convidado de honra, o diagnóstico era o mesmo. Dizia Luiz Ruffato naquela ocasião: “Vivemos isolados e isso não aconteceu agora, foi assim por tanto tempo que parece que a ideia de que não somos latino-americanos é aceita, mas também não somos africanos, nem europeus; somos uma ilha muito solitária no cenário regional”. Se essa é uma evidência percebida pelos escritores e jornalistas citados em seus discursos mais efêmeros, talvez valha a pena insistir em algumas questões: as matérias e os discursos dos escritores colocam o sujeito Brasil em duas posições distintas: ele não é visto/ ele não se vê como parte da América Latina; e quando pensamos nos autores mortos (e portanto consagrados) podemos visualizar melhor as trocas literárias entre o Brasil e a Nucleolar organizer América Latina que fala espanhol? Acontece alguma coisa quando dizemos: “Não trabalhamos com mortos?” Vamos à primeira questão. No prefácio ao livro de Darcy Ribeiro , Eric Nepomuceno diz sem rodeios: “Pode parecer óbvio, mas convém lembrar que os brasileiros costumam se referir a nossos vizinhos deixando claro que eles são eles, e que nós, nascidos no Brasil, pertencemos a outra estirpe.” Neste caso, Eric Nepomuceno chama a responsabilidade da ausência —ou da exclusão— exclusivamente para os brasileiros. Seria uma questão de interesse ou de atitude. Indo um pouco adiante, Darcy Ribeiro busca uma leitura mais abrangente que chega, porém, a resultado idêntico: O problema deixa de ser brasileiro e se estende a cada país que compõe a América Latina geográfica distribuída segundo as especificidades de duas colonizações violentas e que, embora semelhantes na truculência e na intenção, guardam características distintas, além de línguas distintas. A unidade, parece então, só existe mesmo como geografia, já que mais adiante Darcy Ribeiro enfatiza: “Ainda hoje, nós, latino-americanos, vivemos como se fôssemos um arquipélago de ilhas que se comunicam por mar e pelo ar e que, com mais frequência, voltam-se para fora, para os grandes centros econômicos mundiais.” O “ainda hoje” do texto de Darcy Ribeiro refere-se à ocasião das efemérides dos 500 anos de “descoberta” da América, comemorados em 1992, e o texto é desconcertante na medida em que mostra a catástrofe civilizatória calcada na intenção de domínio alcançado com a prosperidade da riqueza saqueada e com a força da violência justificada pela religião. E demonstra como esse “moinho de gastar gente” que foi a colonização europeia na América Latina tem consequências funestas ainda hoje.